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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Meditação com crianças: conheça a escola que adota a prática como exercício diário


A influência da prática meditativa na vida do ser humano não é nenhum segredo para muitas pessoas; mas e quando se trata das crianças? Desde 1996, o Projeto Conectar, desenvolvido em uma escola privada de Salvador, na Bahia, propõe exercícios de reflexão e meditação no dia a dia dos estudantes.

A Revista Mandala conversou com a pedagoga e neuroeducadora Ana Lúcia Oliveira da Cruz, que trabalha há mais de 20 anos na Ananda – Escola e Centro de Estudos, onde acontece a prática de meditação diária direcionada a crianças de um a 15 anos de idade. Em Neurociência, Consciência e Meditação: prática no cotidiano de uma escola privada de Salvador, pesquisa desenvolvida pelo Centro de Neuroeducação – Centro de Atendimento e Estudos Avançados, a pesquisadora relata sua experiência com o projeto.


O processo se dá de forma atenciosa e preparada. Como Ana Lúcia explica, há uma direção e uma equipe de coordenação (dividida em Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental II) que busca se capacitar para, posteriormente, capacitar a equipe docente, que realiza a prática com os estudantes.

Revista Mandala – Quando e como surgiu essa iniciativa de aplicar meditação com os estudantes?
A proposta pedagógica da escola já foi pensada com o intuito de contemplar o desenvolvimento integral do ser humano em seus níveis físico, psíquico e moral, sendo a meditação um instrumento para o desenvolvimento dos três. Quando a escola foi implantada, em fevereiro de 1996, já iniciamos com a prática da meditação, durante 30 minutos, todos os dias.
Revista Mandala – Quais foram os primeiros benefícios a serem observados com a prática?
Os primeiros benefícios foram observados desde o primeiro ano de atuação da Escola, em 1996, quando as famílias relatavam que os seus filhos estavam mais calmos, mais pacientes, mais relaxados e mais concentrados em suas atividades diárias, havendo avanços significativos, inclusive, nos aspectos cognitivo e motor.
Revista Mandala – E como os pais das crianças lidam com a proposta?
Quando os pais das crianças vão conhecer a escola, a proposta pedagógica é apresentada detalhadamente, inclusive a prática da meditação. Muitos pais já procuram a escola por saber que temos uma prática diferenciada. Além dos exercícios de meditação, realizamos outros exercícios contemplativos que conectam o indivíduo a sua essência. Temos também uma disciplina intitulada Iniciação à Consciência na qual trabalhamos com valores éticos, estéticos e morais elevados, com os vícios e as virtudes, temperamentos, com Leis Naturais que regem o Universo, dentre outros.
Revista Mandala – Atualmente, o que se observa de mais interessante nessa prática, o que indica para você que estão no caminho certo e que é importante mantê-la?
O que mais nos chama a atenção é que as crianças, mesmo as pequenininhas, entre um ano e meio e dois anos, ensinam aos seus pais a fazerem a meditação em casa, contribuindo com a melhoria da qualidade de vida das famílias. Sempre que fazemos algum trabalho no qual devam dizer o que mais gostam na Escola elas respondem que é a meditação.
O que nos certifica que o caminho mais assertivo é este é testemunharmos produtos da Escola, já atuando no mercado de trabalho, nas áreas de exatas, ciências humanas ou sociais e biomédicas, e estarem em posição de destaque, tanto nos aspectos cognitivos quanto comportamentais.
Revista Mandala – Na sua opinião, qual a grande e principal transformação que está sendo feita ao introduzir a prática da meditação na vida dos estudantes, não só no rendimento como alunos mas também, e especialmente, em suas experiências pessoais, fora do espaço escolar?
Envolvem-se menos em conflitos com os colegas e educadores, conseguem manter a calma, a paciência, a criatividade aflora, o raciocínio é mais rápido, há uma maior fluência verbal e riqueza de vocabulário, conseguem manter o foco de atenção nas atividades. Quando saem da Escola e vão para o ensino médio e para a faculdade sempre retornam para agradecer e dar depoimentos sobre os benefícios trazidos pela meditação realizada na Escola. São pessoas que têm mais traquejo social, maior inteligência emocional, senso de autorresponsabilidade, maior empatia nas relações profissionais, além de demonstrarem em suas ações que são pessoas que primam pelos valores humanos.
Trabalhamos com inclusão e é evidente o rápido desenvolvimento de crianças com transtorno do espectro autista, por exemplo, que passam a interagir socialmente, diminuem a incidência dos movimentos estereotipados e repetitivos, dentre outros comportamentos.
A Professora Ana Lúcia relata, por fim, casos testemunhados por ela em que a prática de meditação oferecida pela Ananda transformou a vida dos estudantes. O Projeto Conectar, que completa esse ano duas décadas de existência, é parte do Programa Conscientizar, o qual, nas palavras da neuroeducadora, “faz parte da estratégia para o trabalho de despertamento, desenvolvimento, moralização e socialização do potencial humano do educando, pautando sua estrutura teórica/prática em todo conhecimento disponível não só pela ciência, mas também pela filosofia e religião”.