Vegan Art |
Por Dr. phil. Sônia T. Felipe, no site Olhar Animal
Rolando pelos perfis a foto com as cores do arco-íris, postada pela Casa Branca em reconhecimento pela aprovação do casamento entre pessoas que se amam e têm prazer na companhia uma da outra, sem restringir tal felicidade à oposição genital.
Ora, ora, eis que vejo gente que jamais se engajou em qualquer ONG de defesa de crianças pobres e negras, gente que conheço pessoalmente há pelo menos duas décadas, que jamais se engajou em qualquer movimento de defesa seja lá de qual for o grupo em situação política, moral e econômica vulnerável, a postar a foto de bebezinha negra e a frase: No dia em que se engajarem por esta causa, me avisa que eu tô nessa, ou algo do gênero.
Homofobia, transfobia, racismo e especismo, tudo junto e misturado. E bebês negras sendo usadas para bater em gays, lésbicas e transsexuais que agora podem oficializar sua união, casando-se de fato. É mais ou menos como usar animais para bater em mulheres, nas tantas frases de xingamento que não vou aqui escrever porque tenho repulsa por tais falas.
Pela minha experiência, todas as pessoas que te jogam na cara que deverias cuidar de alguma outra causa social e não da discriminação e matança de animais são pessoas que não fazem, nunca fizeram e não farão nadinha por qualquer dos humanos que, de repente, recebem delas tamanha compaixão.
Agora a lógica cínica se repete. Pessoas que nunca se engajaram por crianças vítimas das guerras, das chacinas, vítimas do racismo e da xenofobia, da fome causada pela comilança animalizada, usam de cinismo e hipocrisia para dizer que a luta contra a homo e a transfobia é luxo. Luxo é se entupir de carnes e queijos. Luxo e hipocrisia moral.
Cinismo e hipocrisia é o que não falta a essa gente. Comem e se empanturram de tudo o que é derivado de animais, bebem até encher a cara vinhos e espumantes, e depois postam a foto da pessoinha negra no arco-íris, dizendo-se compassivas com a fome dessas crianças, mas comem 80 a 90 por cento de toda a comida plantada no mundo, não sem antes fazer essa comida passar pelo estômago dos 70 bilhões de animais mortos por ano para elas comerem, enquanto a bebezinha africana está morrendo de fome por não ter um prato de feijão e farinha, combinação riquíssima em proteínas, dados de comer aos animais para virar bife e queijo no prato dessa pessoa tão compassiva e, provavelmente, algo acima do peso.
Céus, eu quero asilo ético!
Animastê!
Sônia T. Felipe | felipe@cfh.ufsc.br
Sônia T. Felipe, doutora em Teoria Política e Filosofia Moral pela Universidade de Konstanz, Alemanha (1991), fundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência (UFSC, 1993); voluntária do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis (1998-2001); pós-doutorado em Bioética - Ética Animal - Univ. de Lisboa (2001-2002).
Autora dos livros Acertos abolicionistas: a vez dos animais (Ecoânima, 2014); Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas (Edufsc, 2007;2014); Galactolatria: mau deleite (Ecoânima, 2012); Passaporte para o Mundo dos Leites Veganos (Ecoânima, 2012); Por uma questão de princípios: alcance e limites da ética de Peter Singer em defesa dos animais (Boiteux, 2003).
Colaboradora nas coletâneas, Somos todos animais (ANDA, 2014); Direito à reprodução e à sexualidade: uma questão de ética e justiça (Lumen & Juris, 2010); Visão abolicionista: Ética e Direitos Animais (ANDA, 2010); A dignidade da vida e os direitos fundamentais para além dos humanos (Fórum, 2008); Instrumento animal (Canal 6, 2008); O utilitarismo em foco (Edufsc, 2008); Éticas e políticas ambientais (Lisboa, 2004); Tendências da ética contemporânea (Vozes, 2000).