Por Robson Fernando de Souza, no site Veganagente
Temos visto, nesses últimos meses, um crescimento da visibilidade da categoria de vegans anti-humanistas, inclusos reacionários de direita e misantropos assumidos. Essas pessoas não sabem, mas suas manifestações contra seres humanos estão prejudicando a reputação do vegano-abolicionismo.
Por causa dessa aparentemente crescente tendência de manifestações de ódio aos Direitos Humanos, aversão a minorias políticas e adesão fanática a ideais de direita, muitos carnistas e especistas estão batendo no peito e dizendo com satisfação: “Não é que tínhamos razão?”. Eles estão vendo estereótipos preconceituosos, como o do defensor animal que esnoba pessoas necessitadas e o do vegano que “não pensa nas crianças famintas”, se tornarem, em parte, reais.
Até algum tempo atrás, era fácil refutar mitos como que “os vegans amam os bichos porque desprezam os humanos” e “esses defensores radicais dos animais estão humanizando os animais e animalizando os humanos”. Afinal, eram estereótipos, visões preconceituosas que, fruto de malícia ou ignorância, não viam correspondência na realidade – já que vegans seriam, via de regra, pessoas preocupadas ao mesmo tempo com animais humanos e não humanos, capazes de lutar por várias causas ao mesmo tempo e assim derrubar mitos de falsa dicotomia.
Mas estamos presenciando vegans anti-humanistas tornarem “reais” esses preconceitos. Alguns defendem não o fim dos testes em animais, mas sim a substituição das cobaias não humanas por presidiários em experimentos cruéis. Outros pensam em como é cruel que bilhões de animais sejam assassinados em abatedouros e barcos pesqueiros por ano, mas não veem na exploração capitalista – muitas vezes baseada em semiescravidão ou trabalho escravo propriamente dito – imposta a trabalhadores humanos um motivo para uma indignação sedenta de justiça.
Outros defendem de meio-dia a quebra de todas as gaiolas, jaulas e baias de confinamento do mundo, mas às quatro da tarde do mesmo dia pregam o confinamento de “moleques vagabundos” em imundas e semidestruídas prisões de adultos – ao invés de medidas estruturais de prevenção à delinquência juvenil e ao crime adulto. Também há aquelas pessoas que se indignam em ver especistas dedicando aos animais não humanos o mesmo ódio e descaso moral que elas próprias dedicam a bilhões de seres humanos. E vão-se multiplicando os exemplos.
Isso tem feito carnistas e especistas assumidos sorrirem sarcasticamente. Afinal, aquilo que parecia ser apenas um mito antivegano – o desprezo vindo “desses vegans hipócritas e fanáticos” aos seres humanos necessitados – está se configurando, diante deles, como verdade. E torna-se algo que pode ser usado por eles para atacar o veganismo e estigmatizá-lo como uma causa “anti-humanista” que “pisoteia pessoas para salvar animais”.
A partir dessa “realização” de estereótipos, o vegano-abolicionismo corre o sério risco de ser difamado ainda mais do que já é. Estamos, por causa de pessoas que dizem compartilhar conosco o respeito aos animais não humanos mas declaram ódio ou indiferença egoísta a diversas categorias de humanos, prestes a ver militantes pró-produtos animais “comprovando” em seus blogs e fóruns, com prints de exemplificação em mãos, seus mitos estereotípicos e generalizantes sobre o comportamento ético de vegans.
Antes que esse contra-ataque de carnistas militantes e especistas assumidos venha a ocorrer, reforcemos como o veganismo, por definição, nunca negligenciou seus laços com os Direitos Humanos e as lutas sociais emancipatórias. Mostremos e demonstremos que ter respeito ético pelos animais significa tê-lo por todos os animais, incluídos seres humanos, e que respeitar os animais não humanos desprezando humanos é tão errado e antiético quanto respeitar seres humanos pisoteando a dignidade, a vida e a integridade física dos animais não humanos.