Diante da injustiça, a covardia se veste de silêncio (Julio Ortega) - frase do blog http://www.findelmaltratoanimal.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Regulamento de Porto não diz claramente sobre exportação de animais vivos





Uma operação de grandes proporções está sendo efetivada desde a noite de quarta-feira (29), onde cerca de 27 mil bezerros estão sendo transportados do interior paulista ao porto de Santos. A viagem inicial de cerca de 600km está sendo feita em 300 viagens de carretas preparadas para transportes de animais.

Segundo um caminhoneiro responsável pelo transporte que não quis se identificar, esses bois já enfrentaram antes uma outra viagem que os levaram do Sul do País ao interior Paulista onde ficaram em quarentena e agora foram enviados ao porto de Santos para então, enfrentarem quase 6 mil milhas náuticas que são cerca de 11 mil km até chegarem a Turquia.
Desde quarta-feira (29) o cais de Santos passou a receber cerca de 3 caminhões por hora com em média 90 animais cada.


Ao chegarem ao portão 1 do terminal portuário, os caminhões são alinhados de modo que os animais sejam encurralados em um corredor que levam-nos a plataforma de embarque do navio "Nada", que tem capacidade para até 30 mil bois. A embarcação possuí plataformas sobrepostas formando andares.
Ativistas estão sendo barrados de contato com os animais e ameaçados de prisão caso ultrapassem algumas barreiras. Beatriz Silva, bióloga e presidente da ONG Bendita Adoção, tentou contato para saber a situação em que os animais se encontravam já que muitos estão há 4 dias confinados no navio esperando o fim do embarque, ela no entanto não foi atendida.


Esses animais estão em sofrimento profundo, eles gritam e mesmo a uma distância significativa nós conseguimos os ouvir. A agonia é latente, não podemos permitir que após 20 anos tenhamos um retrocesso desses, cai contra todas as leis de crimes ambientais"
(Beatriz Silva)
Segundo Beatriz, que esteve no local no domingo (03), mesmo com a distância do navio é possível ouvir os gritos dos animais. Os funcionários do Porto cercaram toda a área para evitar acesso de defensores. "Esses animais estão em sofrimento profundo, eles gritam e mesmo a uma distância significativa nós conseguimos os ouvir. A agonia é latente, não podemos permitir que após 20 anos tenhamos um retrocesso desses, cai contra todas as leis de crimes ambientais", completa.

Por que a alternativa de carga viva?

O transporte de animais vivos sempre existiu no Brasil, comumente chamado de caga de "boi em pé", referenciando a maneira como são transportados já que o espaço não permite que os eles descansem nas longas viagens.

Em 2015 o transporte de animais por via marítima causou um grande acidente no qual um navio afundou no Porto do Pará antes de sua saída, milhares de animais morreram afogados e degolados ali mesmo. Já em 2012 cerca de 3 mil bois morreram em alto mar quando o sistema de ventilação do navio parou de funcionar.
O Porto de Santos não fazia mais esse tipo de transporte há 17 anos, o último desembarque de carga viva foi de quase 700 avestruzes provenientes da Espanha. 
Coincidentemente o retorno do transporte de cargas vivas pelo Porto de Santos se deu após a queda de exportação de carne bovina brasileira. 
Após a operação Cane Fraca, a União Europeia, China, Chile e Coreia do Sul anunciaram duas medidas em relação a carne originada do Brasil, suspensão em alguns casos e em outros o aumento da fiscalização.
Alguns dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC),  apontam uma queda significativa nas exportações de carne brasileira que se deu após a Operação Carne Fraca. De acordo com os dados passados pela organização, o Brasil exportou em março de 2017, cerca de US$ 74 mil ao dia, quando antes da operação da Polícia Federal, o valor médio ao dia era cerca de US$ 60 milhões.
No Regulamento de Exploração do Porto de Santos, há cláusulas para o transporte de animais, denominada "Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional- Vigiagro" no entanto, a cláusula encontra-se incompleta dando ênfase apenas ao transporte de vegetais, subordinando o manejo à outra organização, a Vigiagro. Procuramos então a Vigiagro responsável pela região de São Paulo, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.