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Esta semana tive a certeza de que é urgente "re-entender" o Brasil e mais ainda o Brasil deste momento. Entender o ódio ao que nem se sabe direito o que é, como no caso da filósofa norte-americana Judith Butler (me pergunto quantas daquelas pessoas que tiveram tempo ocioso para irem ao aeroporto gritar palavras de ódio sabiam realmente no que estavam mirando).
Entender como podemos tratar com tanta condescendência a violência contra mulheres e meninas. Os números alarmantes de estupros e assassinatos não conseguiram produzir o efeito que tanto esperamos, a redução drástica do número absurdo dessas violências.
Entender porque clamamos por mais armas e tanques e ao mesmo tempo por paz e fim da violência produzida pelas mesmas armas. Porque tentamos contemporizar e usar eufemismos quando devíamos escancarar o racismo praticado cotidianamente por pessoas que também são competentes em seus campos profissionais, são populares e até caridosas.
Entender como há placidez em propor o fim de universidades, como no caso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e não notar-se no propositor nenhuma nesga de vergonha.
Talvez só mesmo revisitando textos e obras que nos ajudem a refletir sobre o sentido do Brasil hoje, a exemplo do que temos, como a produção do antropólogo Darcy Ribeiro em sua obra "O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentindo do Brasil". "A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se esta fosse uma conduta natural."
* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel