Dra. phil.
Sônia T. Felipe
Resumo: Este artigo trata da questão da
discriminação contra os animais, da origem dessa discriminação na filosofia
antiga e do conceito especismo, criado por Richard D. Ryder no século XX para
designá-la, fazendo par com os já conhecidos, racismo e machismo.
Palavras-chave: especismo, especismo elitista,
especismo eletivo, antropocentrismo, Humphry Primatt, Richard D. Ryder
Discriminação moral da espécie
biológica de vida
Atentar
contra a dignidade de seres humanos por conta de sua constituição ou orientação
sexual é sexismo (heterossexismo, homofobia, machismo, misoginia, androginia).
Se a dignidade da pessoa é violada por conta da etnia, é racismo. Machismo,
sexismo e racismo são termos que se tornaram conhecidos nas últimas cinco
décadas.
Entretanto,
se a vida de um animal é tirada em experimentos químicos e bélicos, se sua
liberdade para viver de acordo com o éthos singular de sua espécie lhe é
subtraída pelo confinamento em aquários, zoológicos, circos, galpões,
gaiolas, baias, residências e correntes, se o espírito específico do animal é
eliminado pela doma ou domesticação, se o animal é escravizado para atender aos
interesses humanos, a exemplo das fêmeas bovinas usadas para extração do leite,
das galinhas usadas para produção de ovos, das porcas usadas para reprodução
dos porcos a serem abatidos, e em todos os casos nos quais os humanos tiram dos
animais as condições de vida dignas da espécie em questão, não se usa um termo
equivalente ao que designa o abuso contra o sexo, o gênero e a raça de um
humano. O termo adequado para designar a discriminação contra animais
não-humanos é especismo, pouco conhecido fora do movimento animalista.
Se não há
um conceito designando e delineando uma ação humana, não há reflexão crítica e
ética sobre ela. Sem ser designada, a ação não pode ser avaliada. Sem ponderar
seu valor, não se pode ter consciência do dano que pode causar a quem sofre
seus desdobramentos, seja humano, seja não-humano. A violência contra os
animais permaneceu por milênios sem referência conceitual alguma na história do
pensamento humano, da filosofia à ciência, do direito à arte.