Diante da injustiça, a covardia se veste de silêncio (Julio Ortega) - frase do blog http://www.findelmaltratoanimal.blogspot.com/

domingo, 6 de julho de 2014

A batalha de Erin Brockovich contra a Bayer

Regan Morris
BBC, Los Ángeles

A famosa ativista dos Estados Unidos está no centro de uma batalha contra a corporação alemã, em função das denúncias de milhares de mulheres contra o perigoso anticonceptivo Essure – método rápido e sem cirurgia de esterilização da mulher
Na década de 1990, Erin ficou famosa por ter enfrentado, sem formação universitária, o sistema corporativo estadunidense ao derrotar a empresa Pacific Gas & Eletric Company pela contaminação da água potável em Hinkley, Califórnia. Essa saga foi protagonizada por Julia Roberts, no filme “Erin Brockovich, uma mulher de talento”.
A ativista agora luta contra a Bayer e alerta sobre o perigoso método anticonceptivo, que esteriliza permanentemente a mulher de forma rápida e sem cirurgia. O procedimento consiste na inserção de pequenas espirais, em forma de bobinas,nas trompas de Falópio para impedir que o esperma chegue aos óvulos.

Foi aclamado por ser um método de controle da natalidade mais econômico e menos invasivo, uma alternativa aos procedimentos cirúrgicos que bloqueiam, cortam ou selam as trompas de Falópio.
Erin soma-se ao crescente coro de mulheres que questionam o procedimento, alegando que o produto feriu milhares de mulheres. “Está perfurando úteros, paredes do estômago... Algumas mulheres fizeram um escâner em todo o corpo, para descobrir onde se encontrava o dispositivo. Uma das mulheres que utilizou o Essure ficou grávida e, neste caso, a mãe não conseguiu que o dispositivo fosse extraído de seu corpo. Na 25ª semana de gravidez, o dispositivo se rompeu e emigrou, provocando a perda do líquido amniótico. O bebê não sobreviveu”, disse Erin à BBC.

Ciência contra emoções
A Bayer, fabricante do produto, disse ser solidária com qualquer mulher que sofra, e argumenta que a ciência e os dados da Agência de Controle de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, sigla em inglês) demonstram que o produto é absolutamente seguro.
“Aqui há muitas emoções envolvidas”, disse o diretor médico da Bayer nos EUA, o doutor Edio Zampaglione. “A ciência é que tem que guiar nossa compreensão, e aponta que o Essure é um produto seguro e eficaz”.
Segundo a Bayer, das 750 mil mulheres em todo o mundo que utilizam o produto, a maioria não se queixou.
A FDA, assinala que Essure é o único método de esterilização disponível nos Estados Unidos que não requer uma incisão na pele e que quando se utiliza corretamente, tem eficiência de 99,83%.
A Agência também explica que a maioria das mulheres que aplica o procedimento pode ir  para casa em 45 minutos e retornar às suas atividades normais em um ou dois dias. O procedimento não é reversível.
O método foi aprovado em novembro de 2002, nos EUA, e até outubro de 2013 recebeu 943 denúncias relacionadas com Essure, 606 foram por causar dor. Outras mil foram enviadas através de um sistema voluntário de queixas.
Por outro lado, os médicos não são obrigados a informar os problemas surgidos com os produtos que utilizam e muitas mulheres não sabem como denunciar os problemas.
Um grupo no Facebook, chamado de “Essure Problems”, tem 8592 membros e o método foi batizado de “E-hell”, um jogo de palavras entre Essure e inferno em inglês.
Os maiores problemas são dor, sangramento e inflamações causadas pelo dispositivo. Algumas dizem que seus dispositivos quebraram e perfuraram seus órgãos.

“Discriminada”
Kim Myers implantou o dispositivo em 2008 e disse que durante três anos experimentou uma dor insuportável que a debilitou. Precisou fazer uma histerectomia (retirada do útero) e o Essure foi retirado. Sua aflição não só estragou seu casamento, como ficou incapacitada de montar a cavalo de forma competitiva.
“Nunca me senti tão discriminada em minha vida, como me senti com esta coisa Essure”, disse Kim que foi pressionada por seu médico para colocá-lo. Quando se queixava de dor, conta que ele dizia “boba, você está hormonal”. “Nada mais distante da verdade”, acrescenta.
Kim não pode processar a Bayer porque nos Estados Unidos existem algumas leis federais que protegem os fabricantes de produtos médicos em receber reivindicações coletivas. Estas impedem que se abram processos baseados em reclamações estatais, como negligências ou erros nas advertências sobre os produtos.
A intenção destas leis é impedir reclamações ou processos frívolos, mas os defensores dos direitos dos consumidores, como Erin Brockovich, argumentam que as leis precisam ser modificadas.
“As empresas devem ser responsáveis e, neste caso, a Bayer não pode virar a cabeça e dizer que ‘essas oito mil mulheres não importam’. Acredito que tem a responsabilidade, o dever, de observar o que está ocorrendo, e se há dúvidas, enfrentá-las”, disse Erin.
“Uma já era demais. E oito mil mulheres? A Bayer não pode ignorar essa voz coletiva. Há algo errado com o produto”.
Erin instiga as mulheres a compartilhar suas histórias e exercer pressão sobre a Bayer para retirar o Essure do mercado.
Ela sabe o que significa enfrentar os interesses das grandes corporações, pois jogou papel decisivo na maior ação coletiva da história dos EUA, apesar de não ser formada em direito.
No passado, enfrentou uma batalha entre Davi e Golias contra a Pacific Gas e a Electric Company, ambas da Califórnia, pela contaminação das águas.

“Desconectada”
A Bayer disse que as preocupações de Erin estão equivocadas. O doutor Zampaglione, da Bayer – uma marca bem estabelecida, com mais de 150 anos de existência – disse que não há possibilidade da empresa retirar o Essure do mercado.
“Posso dizer que é uma porcentagem muito baixa (de informações de mulheres que sofreram efeitos adversos)”, disse. “E isto é consistente com as provas clínicas e com o que a FDA observa”.
Zampaglione disse que a empresa tem dois números telefônicos gratuitos para que as pacientes façam suas queixas e quer saber de qualquer mulher que tenha algum problema com Essure. Assinala também que a empresa não desperdiçaria sua reputação em um produto em que 100% não acreditam nele.
“Estamos colaborando com as pacientes, com as mulheres que sofreram uma lesão ou efeitos adversos. Não posso comentar sobre as opiniões de Erin, mas vemos uma desconexão: estamos oferecendo produtos e dispositivos de qualidade”.

Matéria escrita por Regan Morris, BBC, Los Ángeles, 3/7/2014 - http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2014/07/140626_salud_erin_brockovich_bayer_essure.shtml


Tradução: Sandra Luiz Alves, a pedido de Coordinación contra los peligros de BAYER - http://www.cbgnetwork.org/