Regan
Morris
BBC,
Los Ángeles
A famosa ativista dos Estados Unidos está no centro de uma
batalha contra a corporação alemã, em função das denúncias de milhares de
mulheres contra o perigoso anticonceptivo Essure – método rápido e sem cirurgia
de esterilização da mulher
Na década de 1990, Erin ficou famosa por ter
enfrentado, sem formação universitária, o sistema corporativo estadunidense ao
derrotar a empresa Pacific Gas & Eletric Company pela contaminação da água
potável em Hinkley, Califórnia. Essa saga foi protagonizada por Julia Roberts,
no filme “Erin Brockovich, uma mulher de talento”.
A ativista agora luta contra a Bayer e alerta sobre o
perigoso método anticonceptivo, que esteriliza permanentemente a mulher de
forma rápida e sem cirurgia. O procedimento consiste na inserção de pequenas espirais,
em forma de bobinas,nas trompas de Falópio para impedir que o esperma chegue
aos óvulos.
Foi aclamado por ser um método de controle da natalidade
mais econômico e menos invasivo, uma alternativa aos procedimentos cirúrgicos
que bloqueiam, cortam ou selam as trompas de Falópio.
Erin soma-se ao crescente coro de mulheres que
questionam o procedimento, alegando que o produto feriu milhares de mulheres.
“Está perfurando úteros, paredes do estômago... Algumas mulheres fizeram um
escâner em todo o corpo, para descobrir onde se encontrava o dispositivo. Uma
das mulheres que utilizou o Essure ficou grávida e, neste caso, a mãe não
conseguiu que o dispositivo fosse extraído de seu corpo. Na 25ª semana de
gravidez, o dispositivo se rompeu e emigrou, provocando a perda do líquido
amniótico. O bebê não sobreviveu”, disse Erin à BBC.
Ciência contra emoções
A Bayer, fabricante do produto, disse ser solidária com
qualquer mulher que sofra, e argumenta que a ciência e os dados da Agência de
Controle de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, sigla em inglês) demonstram
que o produto é absolutamente seguro.
“Aqui há muitas emoções envolvidas”, disse o diretor médico
da Bayer nos EUA, o doutor Edio Zampaglione. “A ciência é que tem que guiar
nossa compreensão, e aponta que o Essure é um produto seguro e eficaz”.
Segundo a Bayer, das 750 mil mulheres em todo o mundo que
utilizam o produto, a maioria não se queixou.
A FDA, assinala que Essure é o único método de esterilização
disponível nos Estados Unidos que não requer uma incisão na pele e que quando
se utiliza corretamente, tem eficiência de 99,83%.
A Agência também explica que a maioria das mulheres que
aplica o procedimento pode ir para casa em 45 minutos e retornar às
suas atividades normais em um ou dois dias. O procedimento não é reversível.
O método foi aprovado em novembro de 2002, nos EUA, e até
outubro de 2013 recebeu 943 denúncias relacionadas com Essure, 606 foram por
causar dor. Outras mil foram enviadas através de um sistema voluntário de queixas.
Por outro lado, os médicos não são obrigados a informar os
problemas surgidos com os produtos que utilizam e muitas mulheres não sabem
como denunciar os problemas.
Um grupo no Facebook, chamado de “Essure Problems”, tem
8592 membros e o método foi batizado de “E-hell”, um jogo de palavras entre
Essure e inferno em inglês.
Os maiores problemas são dor, sangramento e inflamações
causadas pelo dispositivo. Algumas dizem que seus dispositivos quebraram e
perfuraram seus órgãos.
“Discriminada”
Kim Myers implantou o dispositivo em 2008 e disse que
durante três anos experimentou uma dor insuportável que a debilitou. Precisou
fazer uma histerectomia (retirada do útero) e o Essure foi retirado. Sua
aflição não só estragou seu casamento, como ficou incapacitada de montar a
cavalo de forma competitiva.
“Nunca me senti tão discriminada em minha vida, como me
senti com esta coisa Essure”, disse Kim que foi pressionada por seu médico para
colocá-lo. Quando se queixava de dor, conta que ele dizia “boba, você está
hormonal”. “Nada mais distante da verdade”, acrescenta.
Kim não pode processar a Bayer porque nos Estados Unidos
existem algumas leis federais que protegem os fabricantes de produtos médicos
em receber reivindicações coletivas. Estas impedem que se abram processos
baseados em reclamações estatais, como negligências ou erros nas advertências
sobre os produtos.
A intenção destas leis é impedir reclamações ou processos
frívolos, mas os defensores dos direitos dos consumidores, como Erin
Brockovich, argumentam que as leis precisam ser modificadas.
“As empresas devem ser responsáveis e, neste caso, a Bayer
não pode virar a cabeça e dizer que ‘essas oito mil mulheres não importam’.
Acredito que tem a responsabilidade, o dever, de observar o que está ocorrendo,
e se há dúvidas, enfrentá-las”, disse Erin.
“Uma já era demais. E oito mil mulheres? A Bayer não pode
ignorar essa voz coletiva. Há algo errado com o produto”.
Erin instiga as mulheres a compartilhar suas histórias e
exercer pressão sobre a Bayer para retirar o Essure do mercado.
Ela sabe o que significa enfrentar os interesses das grandes
corporações, pois jogou papel decisivo na maior ação coletiva da história dos
EUA, apesar de não ser formada em direito.
No passado, enfrentou uma batalha entre Davi e Golias contra
a Pacific Gas e a Electric Company, ambas da Califórnia, pela contaminação das
águas.
“Desconectada”
A Bayer disse que as preocupações de Erin estão equivocadas.
O doutor Zampaglione, da Bayer – uma marca bem estabelecida, com mais de 150
anos de existência – disse que não há possibilidade da empresa retirar o Essure
do mercado.
“Posso dizer que é uma porcentagem muito baixa (de
informações de mulheres que sofreram efeitos adversos)”, disse. “E isto é
consistente com as provas clínicas e com o que a FDA observa”.
Zampaglione disse que a empresa tem dois números telefônicos
gratuitos para que as pacientes façam suas queixas e quer saber de qualquer
mulher que tenha algum problema com Essure. Assinala também que a empresa não
desperdiçaria sua reputação em um produto em que 100% não acreditam nele.
“Estamos colaborando com as pacientes, com as mulheres que
sofreram uma lesão ou efeitos adversos. Não posso comentar sobre as opiniões de
Erin, mas vemos uma desconexão: estamos oferecendo produtos e dispositivos de
qualidade”.
Matéria escrita por Regan Morris, BBC, Los Ángeles, 3/7/2014
- http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2014/07/140626_salud_erin_brockovich_bayer_essure.shtml
Tradução: Sandra Luiz Alves, a pedido de Coordinación contra
los peligros de BAYER - http://www.cbgnetwork.org/